Por Vanda Klabin / curadora e historiadora de arte
A água, matéria instável que a natureza oferece, com seus movimentos oscilantes e intensas vibrações, entra como eixo condutor da composição e transfomada em um acontecimento plástico – foi o que idealizei para articular as diversas obras de arte que envolvem e que estão presentes no espaço arquitetônico de Gisele Taranto, Loft Tropical, DECA, 2014.
Esse elemento, a água, traz uma plasticidade própria, uma afinidade com a idéia de fluidez , vai ressignficar o espaço, levando em conta que os produtos da DECA ali expostos – suas louças, pias, chuveiros, torneiras, são os locais de passagem desse líquido, um estado provisório da matéria. E atua como uma espécie de fusão amorosa e também como um elemento conectivo entre as obras e o espaço.
Era necessário criar um conceito estético sobre o Loft Tropical e tecer um diálogo entre as obras e o espaço, uma afinidade com a ideia de fluidez, um cruzamento de sólidos e líquidos, a passagem efêmera do tempo, da nossa natureza volátil, vibrante, intensa, suave ou sensual.
A água, através de rotas simbólicas, foi ganhando corpo e se consolidou em outros territórios: repousa nas telas, ou nas fotografias ou nas esculturas ou em vídeos. Adquiriu uma presença física e uma representação visual. Esses objetos de arte adquirem um conteúdo plural, lidam com os estados provisórios, com a transitoriedade da matéria ou direcionam para uma imersão em múltiplos pigmentos .
Dessa forma, incorporei novos meios de expressão que remetem ao líquido como a essência da experiência para subverter o olhar e construir um repertório de obras com diferentes suportes, compatível com as propostas do espaço arquitetônico.
O Loft Tropical DECA apresentava paredes ocas de drywall, onde, através de pequenos orifícios, os novos produtos lançados pela DECA poderiam ser apreciados. Os objetos de uso comum foram desambientados e destacados do contexto que lhe é habitual e desviados para uma outra dimensão na qual, não sendo utilitário, só poderia ser estético. Ao se tornar um puro ato mental, a forma estética e a utilidade prática são resultantes de um mesmo processo: o valor artístico.
Essas intervenções nos orifícios – oculto /mágico/sensual onde cada visada depende de uma situação perceptiva, sensorial e emotiva nos remete ao trabalho de Marcel Duchamp – Étant Donné, considerado o primeiro exemplo de uma instalação de arte, onde a relação entre o fruidor e o ambiente que o circunda, já está alterada. Um ambiente secreto é reconstruído e vedado com uma porta, cujo interior é visível apenas através de uma pequena abertura estratégica, estabelecendo uma relação mágica e erótica nesse ambiente.
Os artistas selecionados: Anna Paola Protasio, Daniel Escobar, Eduardo Coimbra, Fernando de La Rocque, Gabriela Maciel, Gabriela Machado, Laura Vinci, Laura Erber, Luiza Baldan, Marcos Chaves, Marta Jourdan, Niura Bellavinha, Shirley Paes Leme, Valter Lano, Vanderlei Lopes, Vik Muniz. Arranjos de flores – seguindo Still Life Paintings , de Édouard Manet.